Não sei o que é o tempo. Não sei qual a verdadeira medida que ele tem, se tem alguma.
A do relógio sei que é falsa: divide o tempo espacialmente, por fora.
A das emoções sei também que é falsa: divide, não o tempo, mas a sensação dele.
A dos sonhos é errada; neles roçamos o tempo, uma vez prolongadamente, outra vez depressa, e o que vivemos
é apressado ou lento conforme qualquer coisa do decorrer cuja natureza ignoro.
Bernardo Soares. LIVRO DO DESASSOSSEGO. Obras Completas de Fernando Pessoa