sexta-feira, 12 de março de 2004

Eu não, mas como o compreendo

Eu Vejo o Herman SIC
 
Aos domingos à noite tenho sempre a mesma dúvida e acabo sempre também por tomar a mesma decisão. Dou o benefício da dúvida ao Herman SIC. Chamem-me masoquista, mas os pequenos (e cada vez mais curtos) momentos de humor vão sendo ainda razão para aguentar muitas das coisas inacreditáveis que o programa tem. Uma opção de difícil defesa até para mim, pelo grande desequilíbrio do programa e porque, no final, acabo por nunca ficar satisfeito com a escolha.
Além da incapacidade de Herman José para fazer um programa do género "talk show" de entretenimento (nas conversas que tem com os seus convidados, ou falha na abordagem, ou nos temas que escolhe, e é deselegante, inoportuno), Herman SIC está virado cada vez mais para dentro e cada vez menos para o espectador. Um exemplo: aquele cartaz com letras de músicas populares alemãs, transportado por duas moças, e que passa repetidamente pelo palco. É claro que Herman José e a sua trupe se divertem com aquilo, mas irrita-me que ignorem quem está do outro lado, retirando o papel que cabe ao espectador. Tem piada uma vez, mas já cansa. Para quem gosta do humor de Herman José, o programa é um falhanço - e nem sequer vou falar do "pseudo" episódio com Lili Caneças. O próprio Herman terá sentido a necessidade de dar espaço ao seu humor e a novas personagens que não cabem na noite de domingo e criou os Papéis ReSIClados. Mas talvez não fosse preciso se o Herman SIC não resvalasse para caminhos para lá do aceitável.

José J. Mateus, Público, Quinta-feira, 11 de Março de 2004