domingo, 29 de fevereiro de 2004

Palavras desenhadas no silêncio

Quando coincidimos descobrimos
que na diferença somos a unidade
e nada sobra já de quanto somos
Esta é a força de ser fatalidade
feliz do corpo em outro corpo
Estar na paz no prestígio limpo
que nos traz à certeza de estar
no sopro do tempo onde é claro
Dissemina-se por todo o lado a delicadeza
como uma forma de alegria luminosa
Quando se poderia levantar a trama de água
a ver as subtilezas marinhas vagarosas
Vemos e tudo está passando numa tranquila ordem
e cada objecto reflecte a teia de uma luz
que suscita as palavras desenhadas no silêncio

António Ramos Rosa, "O Livro da Ignorância". Signo. 1988