segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

José Afonso


Recordar José Afonso no aniversário da sua morte.
Um aniversário de morte não se comemora, mas sugere a recordação.
Recordo José Afonso dos tempos da minha adolescência. A importância que teve na minha evolução cultural. Foi com ele que percebi que as palavras e também a música são a força das ideias. As palavras exprimem as ideias, a música dá-lhes o encanto e a universalidade.
Recordo o Zeca nos encontros no café Central, na praça de Bocage. No café Tamar, na bica diária, depois do almoço. Recordo as longas e deliciosas conversas, sobre a música, sobre os livros, sobre a política. Política que ele sempre viveu como forma de mudar consciências. Muitas vezes me lembro:
“O que pensaria o Zeca disto?”.
Recordo o sentido de humor mordaz e acutilante.
Comprovo com frequência a intemporalidade da sua música.
Enquanto escrevo estas linhas, ouço “ Os Dias Levantados” de António Pinho Vargas, com libreto de Manuel Gusmão. Uma extraordinária ópera que evoca o 25 de Abril.
Lembro-me da lindíssima composição “Vilas Morenas”, que António Pinho Vargas dedicou ao Zeca. E percebo que há coisas que existem porque ele existiu.
Recordo o poeta culto e inspirado. Era ele quem dizia: “Há quem viva sem dar por nada, há quem morra sem tal saber”, a minha frase preferida.
Recordo um amigo.
JTD