NÃO SEI DO QUE É QUE SE TRATA, MAS NÃO CONCORDO | Já todos percebemos que isto está tudo lixado. Valores de ontem são hoje atropelos. A decência política, a defesa de valores culturais e de valorização da ciência estão em desuso. Agora grita-se e esbraceja-se pela defesa do ódio e do ajustamento egoísta ao indivíduo em acção unipessoal. Quere-se ter tudo. Ir mais além, sempre. Coaching e auto-ajuda ajudam. A contemplação, o pensamento, o desfrutar da arte, da leitura, da música deixaram de ser prioridade educativa e de elevação cultural. Só se dá valor a essas inutilidades se forem úteis financeiramente. Muito úteis, de preferência. De resto, a Inteligência artificial resolve tudo. A preguiça está na moda. Já se elogia a cópia e o plágio. É a nova curiosidade intelectual do basta ir à aplicação no google para sermos esclarecidos oradores e influenciadores de referência.
Digo isto porque cheguei a uma conclusão que me agrada. Perante a alarvidade faço como os três macacos sábios japoneses. Não vejo, não oiço e não falo do que me agride de maneira alarve. É por isso que não comento o que fazem alguns craques famosos — agora chama-se Influencers — que exibem atitudes que incomodam tantos dos meus amigos: quero lá saber do idiota bilionário que tem os melhores pés para o jogo da bola. Representa-me no mundo? É motivo para nos orgulharmos? O caraças. Quer conhecer o traste americano? Vai ter com ele? O que há para dizer de dois cretinos famosos e ricos que se revelam em vocabulário das histórias do coelhinho que foi com o palhaço e com o pai-natal ao circo?
Já que estou com a mão na bola: também não quero saber de quem ganha ou perde os debates com o energúmeno que se candidata a Presidente de uma República que diz defender — inchado de palavroso patriotismo —, mas que não sabe o que isso é, nem sabe muito bem o que quer, nem o que diz, apesar de ser um qualificado (em asneiras) professor doutor da mula ruça. O que é que se aprende ouvindo uma besta quadrada, que tudo discute como se estivesse a vociferar nas bancadas futebolísticas?
Também não quero saber de cançonetistas sexistas e foleiros a olho que inundam como tsunami estrados e monitores. Aí, o incómodo torna-se físico. Dói tanta alarvidade. Perante esta gente sem trambelho, mais vale sermos como os macacos japoneses. Ou então cantar-lhes a canção do Vitorino: "Não sei do que é que se trata, mas não concordo". Aos idiotas sexistas não se dá troco. E não se respeitam em debate. Combatem-se. É uma questão de higiene.
