Tudo existe para acabar em uma fotografia" escreve Susan Sontag, no livro "Sobre Fotografia", publicado em 1977. João António Fazenda expõe, na Casa da Avenida, fotografias que resultam de viagens, vivências, coisas que lhe aconteceram. São documentos visuais que expõem emoções e vontades. Percebe-se uma lúcida percepção do seu tempo. Uma vontade de participar no que acontece à sua volta.
João viajou, olhou, viu, perguntou e tentou obter respostas. As respostas possíveis estão agora ali, naquelas paredes. São as conclusões de alguém que olha com o seu particular olhar. Sebastião Salgado advertiu: "Tu não fotografas com a câmara, fotografas com a tua cultura". Verdade que João António Fazenda conhece. As fotografias que estão expostas na Casa da Avenida são testemunhas de um percurso de vida que se percebe intensa e vivida com os olhos bem abertos. Alude-se a José Afonso em fotografia de cartaz em sua homenagem no Theatre de la Ville, Paris, em finais dos anos oitenta do século passado. José Afonso escreveu "Há quem viva sem dar por nada, há quem morra sem tal saber". Temos aqui a sensação que João António Fazenda deu por tudo e continua a dar. Ouvidos e olhos alerta. Estas imagens revelam sentimentos, um olhar exigente e uma maneira atenta de se olhar para o nosso tempo. O tempo de João é o nosso tempo. Estamos ali. Somos figurantes de um tempo feliz que insiste em existir. Temos que insistir em existir. Ainda não acabámos, como alertou Jorge Silva Melo. Não vamos acabar, digo eu. Insistimos na luta pela justiça e pela felicidade. Parabéns, João.
VER CLARAMENTE VISTO. João António Fazenda. Casa da Avenida, Setúbal. Até 3 de Agosto, 2025