Luís Montenegro é um excelente homem de negócios que nunca deveria ser primeiro-ministro. Para dar um ar respeitável ao discurso cita autores que conhece de nome, mas que não percebe patavina o que escrevem. Percebe-se, aquela cabeça deve ser uma confusão. Deve confundir ministros com clientes, secretários de Estado com amanuenses, assim como confunde a obra dos autores que conhece de nome. Uma salada mal temperada de alhos com bugalhos. Indigestão garantida. Perigo de refluxo.
Ontem, no debate antes de ir para férias, confundiu Sophia com Saramago no discurso auto-laudatório. Rui Tavares denunciou a ignorância. O ridículo ficou mais uma vez estampado naquela cara sem vergonha. Acrescento aqui um poema de que gosto muito, da autoria (mesmo) de Sophia de Mello Breyner Andressen, que talvez o senhor primeiro-ministro não conheça. Diz assim:
Nestes últimos tempos é certo a esquerda fez erros
Caiu em desmandos confusões praticou injustiças
Mas que diremos da longa tenebrosa e perita
Degradação das coisas que a direita pratica?
Que diremos do lixo do seu luxo — de seu
Viscoso gozo da nata da vida — que diremos
De sua feroz ganância e fria possessão?
Que diremos da sua sábia e tácita injustiça
Que diremos de seus conluios e negócios
E do utilitário uso dos seus ócios?
Que diremos de suas máscaras álibis e pretextos
De suas fintas labirintos e contextos?
Nestes últimos tempos é certo a esquerda muita vez
Desfigurou as linhas do seu rosto
Mas que diremos da meticulosa eficaz expedita
Degradação da vida que a direita pratica?