segunda-feira, 17 de março de 2025

Inesquecível

O Fernando Sobral assegurava todas as sextas-feiras estas duas páginas — Sociedade recreativa —, no Jornal Económico. Em 2022, neste dia 18 de março, passam hoje três anos, escrevia sobre o livro onde João Paulo Cotrim pôs texto e João Francisco Vilhena fotografias. 

O Fernando escrevia como ninguém. Calhava escrever sobre relógios. Tornou-se um especialista. Ía à Suiça para lançamentos e apresentações de novos modelos. Eu cheguei a aconselhar-me com ele quando quis comprar um relógio de uma marca que não conhecia, mas que me agradava esteticamente. Aconselhou-me a compra e contou-me a vida do objecto desde o seu nascimento. Não havia assunto que lhe provocasse receios. Artigos de luxo ou artesanatos, livros, músicas, artes visuais, cinema, política, banda desenhada, ilustração, atitudes, tudo se alinhava no conhecimento deste brilhante conhecedor das letras e da sua utilidade. Foi um escritor de relevo. Já depois da sua morte foi publicado por Francisco José Viegas, na Quetzal, o seu último romance: "O Jogo das Escondidas".  Macau é o mote, e a história é deliciosa. Conversei com o Fernando sobre tudo o que nos passou pela cabeça em inúmeros almoços e outros encontros. Foi à Casa da Cultura, Setúbal, conversar com os seus leitores, juntamente com outro amigo e escritor de méritos firmados: Rui Cardoso Martins. Noite inesquecível.

O Fernando morreu dois meses depois da publicação destas páginas no Jornal Económico, a 16 de maio de 2022. Guardei as páginas impressas e releio-as agora com a saudade a entristecer-me. Foi bom conhecer o Fernando e a sua obra que fica e que nos informa da qualidade humana e intelectual deste ser humano único. Quem o conheceu sabe que é esta a verdade. A saudade é tramada.



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