Porque hoje é domingo, e deu-me para isto, dirigo-me em particular aos meus amigos que contestam o que eu aqui digo, não por serem contra, mas sim por acharem que "não é assim que vamos lá". Isto é: o que se diz nas redes sociais são "sentenças" de sofá, são palavras lançadas ao vento, são inutilidades sem consequência, e isso incomoda tremendamente os meus amigos que acham que devemos estar no sofá, mas calados que nem ratos, e deixar as redes sociais para a extrema-direita "educar" os imbecis. Ou se calhar há outra verdade no decreto de inutilidade que me passam: esses meus amigos estão a organizar-se e a participar activamente em estruturas que vão dar uma volta a isto tudo e não dizem nada a ninguém. Provavelmente esses nossos amigos é que sabem, mas não nos passam cartão, porque é assim que deve ser. Eu e os outros que fazemos destas geringonças exercício de expressão cidadã não passamos de uns palonços que pensam estar a fazer uma grande coisa. Somos uns palermas inúteis.
Pessoalmente, tenho uma informação para vos dar, meus amigos: enquanto não nos disserem como se faz de outra maneira mais eficaz, eu e os outros que aqui insistimos em ter opinião vamos continuar a insistir assim desta maneira, que é vendo, lendo, ouvindo e escrevendo. Mas tenho outro ponto para esclarecer o vosso incómodo: não é só de lançar loas nos meus lugares de opinião que vivo como cidadão. Participo em múltiplas iniciativas de combate à extrema-direita fascista e de defesa da cidadania e dos direitos dos mais vulneráveis. Existo, logo penso, e leio, e vejo cinema, teatro, desloco-me para ver e sentir expressões visuais de disciplinas várias. Profissionalmente desenvolvo trabalhos de promoção de ideias solidárias e promovo iniciativas que acima de tudo alertam para que seja visto e ouvido o que eu acho que deve ser visto e ouvido. Tento não falhar uma manifestação de rua que alerte para os problemas das pessoas. Edito e publico materiais de esclarecimento e apelo, e respondo a todos os encontros e iniciativas para que sou chamado. "Desenho" exposições de artistas que alertam e estimulam a opinião contra o medo e a estupidez. Como profissional das coisas visuais exponho ideias que projeto e desenvolvo para estimular a opinião e o debate de ideias que combatam a ignorância. Muitas vezes prejudico o trabalho que me poderia ser mais rentável financeiramente. Isto é absolutamente verdade. Não faço manteiga rançosa, nem acho que o que faço seja a solução de todos os males, mas como cidadão faço o que acho que tenho que fazer. Só isso.
O BlogOperatório existe há vinte e um anos. Quando surgiram os blogues e passaram a ser uma possibilidade de se discutir e esclarecer vontades, criei logo este meu cantinho de bem-estar opinativo. Sinto-me bem aqui. Faço o que faço porque me dá gozo. Porque, apontem aí no vosso moleskine: lutar contra a estupidez da extrema-direita, e promover o que nos dá felicidade e estimula a curiosidade intelectual dá-nos muita alegria. A procura da felicidade também se faz assim: lutando contra a estupidez e a apologia de moralismos serôdios e tristes, e arrasando aqueles imbecis que estão convencidos de que a alegria e a felicidade existem no lucro financeiro apenas.
Meus amigos, estamos juntos, enquanto quiserem. Não pretendo dar sentenças e isso percebe-se, acho eu. Não sou detentor da razão, como é óbvio e nunca pretendi sê-lo. Sei que quem combato não tem as minhas razões. A Razão não existe. Todos temos as nossas razões e existimos com elas. Somos assim na vida. Vivo assim aqui. Cheio de dúvidas. Vazio de certezas. E, confesso, não confio em quem tem as certezas no bolso e acha que sabe como é que "isto vai lá". Seja bem-vindo quem vier por bem. Quem não vier com essas tamanquinhas calçadas tem bom remédio. Não venha.
Fiquemos com José Afonso. A mim acontece-me com (cada vez mais) frequência.
Insisto não ser tristeza
Soluçar sobre uma mesa
E mais não ser deste mundo
Meter navios no fundo
Num caminho de esqueletos
Sempre se plantam gravetos
E se a velhice for tua
Senta-a no meio da rua.