A contribuição de Carlos Almada Contreiras para a instalação da democracia em Portugal foi impressionante. Como militar lutou contra o fascismo. Esclarecido, porque culto e lúcido, participou com entusiasmo na preparação do golpe que pôs fim ao regime repressivo. Foi ele que escolheu "Grândola" como canção senha de aviso para a saída do movimento dos capitães. Depois da revolta participou activamente nas frentes de acção militar que restituíram a liberdade aos cidadãos.
Para senha escolheu inicialmente "venham mais cinco", canção de José Afonso incluída no álbum com o mesmo título. Mas o álbum estava proibido em Portugal. Lembrou-se então de outra música também de José Afonso que tinha ouvido, cantada pelo próprio, numa sessão no Círculo Cultural de Setúbal. A canção, "Grândola, vila morena", pertence ao alinhamento do LP "Cantigas do Maio", e não estava proibida. Almada Contreiras ficou espantado com essa falha dos homens do lápis azul. Fala-se de "igualdade", "fraternidade", que há "em cada esquina um amigo" e que "é o povo quem mais ordena". Descrição perfeita de uma democracia. Mas a censura tinha laivos de estupidez enciclopédica. "Venham mais cinco" diz "não me obriguem a vir para a rua gritar" e "se o velho estica eu fico por cá". Salazar, o velho, não podia ser ofendido assim.
A morte de Carlos Almada Contreiras não teve o tratamento correcto na comunicação social, que agora chama o repugnante Ventura por dá cá aquela palha. A comunicação social prefere a palha à substância política e cultural. É triste. É repugnante.
A Associação 25 de Abril deu a conhecer esta nota sobre as cerimónias fúnebres:
"Na sequência da informação sobre o falecimento do Capitão de Abril Carlos de Almada Contreiras, juntamos elementos sobre as cerimónias fúnebres: