sexta-feira, 20 de setembro de 2024

A institucionalização da estupidez


O primeiro-ministro omite. Mente. Os ministros omitem e inventam. Mentem. O Presidente, outrora famoso pelas omissões e mentiras, agora confirma omissões e mentiras dos outros. O governo não governa. Finge. O primeiro-ministro está em permanente campanha eleitoral. Só faltam os comícios à Trump no fim da semana. O discípulo do inenarrável Cavaco quer eleições e pensa que ainda vive no tempo do primeiro-ministro mais parecido com Salazar que o país teve depois de Abril. E Salazar parece ter voltado, como tantos desejam. As suas ideias povoam as cabeçorras imundas do pantomineiro do partido fascista e dos cinquenta fascistas que foram parar à bancada do extremo direito do parlamento, vindos quase todos da enxurrada que se deu no partido do governo. O lamaçal está instalado. 

O tão apreciado ministro da educação lançou uma ideia para as escolas: avaliação da velocidade de leitura para meninos de 7 anos. Como se ler, escrever e pensar depressa fossem prova de mérito. Claro que nem se coloca a hipótese de ser exactamente o seu contrário. Viva o ensino para alguns. Viva o quadro de honra. Volta Nuno Crato. Ainda é proposta a mudança de nome da estrutura governamental para Ministério da Instrução e Mérito, como os seus homólogos italianos fizeram. O pantomineiro do partido fascista tirava-lhe o chapéu. 

A vida é um concurso, é o que pensam os chamados liberais de agora. Na saúde ganha o melhor, isto é: o empreendimento clínico que arranjar mais clientes — e não pacientes, é claro, que negócio é negócio — enviados pelo Estado. O país será um vasto território à mercê de unicórnios e seus eficientes operadores de marketing. Um sítio mal amanhado mas lustroso, onde permanentemente se exibe uma cultura de luzidio pechisbeque. Exibamos a excelência dos incautos que desprezam a exigência de aprender, coisa estranha para que não temos vagar. O ensino instantâneo é mais eficaz. A mentira compensa. Os pantomineiros povoam as televisões e as redes sociais. O "bom povo" — foi o que a ministra das polícias chamou às pessoas — gosta de concursos e de campanhas de supermercado. Os disparates e as alarvidades verbais ficam-lhes tão bem. O "bom povo" não quer saber de exigências de pseudo-intelectuais. Viva a cultura dos incautos incultos. Bem vindos à institucionalização da estupidez.

Imagem: João Abel Manta: "Prazer em conhecer vocelências".

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