Pedro Cabrita Reis estava na ESBAL quando se deu a revolução. Toda a gente foi para a rua gritar a liberdade. Atitude assumida pelos artistas que tiveram a sorte de estar a despontar nesse tempo de tolerância e descoberta de novos comportamentos.
ATELIER | A exposição que agora esteve nas instalações da Mitra, na Rua do Açucar, é provavelmente a grande exposição do ano em Lisboa. Cabrita organizou a mostra como se estivesse no seu próprio atelier. Chamou-lhe isso mesmo: ATELIER. O artista recusa-se a organizar o seu trabalho segundo as convenções. A normalização não é fumo do seu charuto. Mas esta desorganização está muito bem organizada. As peças encontram-se ali naturalmente, como se tivessem vida própria e escolhessem com quem estar. Estive com ele no sítio, num dia em que decidiu por lá passar. Avisou-me: não há roteiro. A exposição pode ser vista de trás para a frente, ou da frente para trás. Percebe-se essa não intenção de se encontrar uma cronologia, mas os ambientes foram encontrados. Objectos sobrepõem-se e dialogam. Pinturas conhecidas mostram-se junto a outras ainda sem identificação pública. Parece-me existir uma ideia: é o público que deve procurar relacionamentos estéticos. Essa interacção é sugerida pelo alinhamento, acho eu. O artista procurou as evidências do seu passado recuperando conteúdos para os nossos dias. Os materiais utilizados convivem denunciando a mão de Cabrita. O que ali esteve só poderia ser feito por ele. Existe uma intenção de assunção de origens, mas também da autenticidade transformadora. Esta exposição é de pintura, de escultura, de assamblage, de fotografia, mas é sobretudo instalação. O que ali esteve foi uma mostra que recupera o atelier/galeria, como montra de uma vida de cinquenta anos de actividade. Fui lá duas vezes. Iria mais, se houvesse prolongamento. Circular por aquele espaço da Mitra foi uma festa. Uma festa que comemora um artista, mas também festeja a Arte e a cultura contemporâneas. Parabéns, Pedro Cabrita Reis.
Pedro, Carlos Martins, Eugénio Fidalgo e este vosso amigo no dia de reabertura do Restaurante Fidalgo, em junho de 2010. Todos os outros registos são da exposição na Mitra. E são assim uma espécie de escolha pessoal.