quarta-feira, 8 de maio de 2024

Benefício da ignorância


O grunho falante do partido fascista utiliza a ignorância dos seus apoiantes como ferramenta de trabalho. Claro que não diz o que pensa porque não pensa nada nem coisa nenhuma. Diz coisas. Alega o que for preciso para instruir os incautos e ruins. Agora acusa o Presidente de traição à pátria. Claro que não acha nada disso. O contexto internacional está minado de estadistas que pediram desculpa pelas ocupações, violações e expropriações colonialistas e trataram de devolver bens roubados. O grunho falante atreve-se a puxar pelos galões de jurista, como se tal condição profissional lhe garantisse credibilidade. O partido dele está submerso em justiceiros trogloditas. Ele é um jurista fruste que pretende iludir o seu séquito — infelizmente já vasto — de seguidores. E é um cidadão que usa o que for preciso — manipulação, mentira descarada e falta de vergonha evidentes — para iludir os imbecis que o seguem. Imbecis e escroques da pior espécie. Ele é como jurista um manhoso fruste e vil, e como cidadão é um vulgar escroque.


Conto aqui dois episódios que tentam enquadrar este tipo de gente. Na zona onde actualmente vivo, o partido fascista teve excelsa votação. Maioria mesmo, diga-se assim que é para causar arrepios. Senti que tinha que reagir. Quero envolver-me na vida colectiva. Resolvi participar numa acção de formação teatral promovida pelo Centro Cultural da zona. Na primeira sessão esclareci ao que me levava ali. Participar na vida da terra. Perceber o que nos trouxe a esta situação de javardice política. A formação foi excelente. Aprendi os antecedentes da criação de personagens. Fizemos improvisações no estrado que me causaram grande gozo pessoal. Na última sessão deu-se o inimaginável. Uma criatura participante, incomodada desde o início com as investidas verbais ali verberadas contra o partido fascista Chega, avança do nada com esta pérola: "eu até percebo as pessoas que votaram no Chega". Claro que se percebe logo a tendência da criatura e em quem votou, mas ela resolveu esclarecer melhor: "eu sou contra a abertura de fronteiras", e "até há cientistas que dizem que a Terra não é redonda", ou seja: a criaturinha até coloca a hipótese de podermos ir para além das normas defendidas pelo partido fascista. Correcções precisam-se, sempre. Vamos lutar contra o conhecimento em prol da vontade de ser do contra. Os outros, os que não são como nós, devem ser sempre excluídos e combatidos. Nação valente.

O outro episódio não presenciei, mas observei pelas televisões. Aqui há uns tempos, em manifestação do Chega contra essa ideia para eles estapafúrdia de que o racismo existe, os jornalistas de serviço perguntam aos participantes o que os motiva a estar ali. "É para eles saberem que aqui não mandam nada", e "vão para a terra deles" e " não sou racista, mas cada um deve estar na sua terra". Enfim, o povo fascista é assim mesmo. Valente e imortal. O grunho falante ainda não tinha ido tão longe como os seus apoiantes, mas agora, perante os ataques criminosos a pessoas imigrantes residentes na cidade do Porto, a compreensão desses actos surgiu no dia seguinte. Reacção revelada no dia seguinte aos ataques. Ao contrário da costumeira improvisação no momento. O grunho convocou jornalistas, e, em pose de governante, acusou os atacados de possíveis atacantes. Para o povo fascista que o segue essa acusação é lei. Os ataques estão justificados. Os grunhos defendem milícias contra a diferença. Afinal, essa estratégia até já foi aplicada pelo antecessor movimento fascista MDLP de que fizeram parte um actual vice-presidente da Assembleia da República e o pai da ministra da justiça. Estamos no bom caminho.

Não sou patriota da pátria destes energúmenos, nem tenho orgulho no passado histórico que expropriou, violou e impôs religiões. Também não tenho vergonha de nada. Não participei no saque. Mas tenho vergonha de ter compatriotas orgulhosos desse passado. Tenho vergonha de ter 50 fascistas no parlamento. E tenho orgulho em lutar contra eles.

A imagem adicionada a esta opinião veio hoje publicada na secção diária do Público ESCRITO NA PEDRA. Bertrand Russell não conheceu Ventura, mas conheceu bem essa categoria de gente. Gente reles.

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