Maria João Frade esclarece os enleios desta exposição em palavras escritas para a folha de sala. Texto assertivo em que confessa que "andou aos papéis" para fazer esta exposição de Romualdo agora mostrável na Casa da Avenida. Há muito que falava à Maria João na mostra que Romualdo fez lá na Casa num ano qualquer das nossas vidas que se perdeu na minha memória do tempo. Impressionaram-me aquelas texturas, e recordava-as nas conversas convocando a memória para esses testemunhos visuais tão impressivos. Mas, agora, como documento, no segundo andar da galeria, uma projecção vídeo refresca-nos a memória. Deslumbra-nos.
Impressionou-me no autor aquela observação dos papéis velhos como vontade de envolvimento artístico. O rigor e o extremo equilíbrio que executam aqueles desequilíbrios que transformam o lixo em luxo aguçaram-me os sentidos e a curiosidade em ver outras coisas. O resultado da investigação de Romualdo revela-nos sofisticação cultural e uma consequente curiosidade intelectual permanente.
A exposição que agora nos é mostrada é uma confirmação de talentos, mas também uma surpresa. Surpreende aquela necessidade de afastamento da realidade social da Arte. Mas afastamento não é indiferença. A necessidade de observar o mundo tal como ele é anuncia a permanente insatisfação do artista, mas a representação transforma realidades e inverte destinos. Tudo se transforma. Ou deve. A ironia pode ser um bom contributo para essa transformação. A técnica dá uma preciosa ajuda. Romualdo conhece bem as leis da física. E sabe o papel que a Arte tem na contagem do tempo dos materiais. O que aqui nos mostra é o resultado dessa criteriosa e densa investigação. Parte do caos para organizar a desordem. E a desordem existe ali empacotada em armários imaginados pelo artista e sugeridos à nossa interpretação.
É muito bom rever trabalhos deste artista tão singular. Eu, assumo, senti-me em festa. Esta exposição é uma festa para os sentidos.