quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

O Presidente e o doutor Valente Cunha

Confesso que me incomoda comentar este caso. Trata-se do salvamento de pessoas. Mas a inclusão da chamada cunha em casos destes é obviamente de lamentar. O Presidente de todos os portugueses resolveu assistir ao pedido do doutor filho. Tratou de ser Presidente influente. Ao fazer transitar a mensagem do filho doutor sabia o que estava a fazer: exercer influência sobre os outros doutores, daqueles mesmo médicos.

Salvar vidas não é o mesmo que matar pulgas. É uma boa acção. Mas estes salvamentos por cunha são de lamentar. É coisa de escuteirinho papa-missas, como aqueles que satisfazem as vontades da doutora Jonet. Mas adiante.
Incomoda-me mais outra situação. Mas porque raio é um medicamento que salva pessoas tão caro? Sei que aquilo foi apresentado depois de muita investigação, depois de muito trabalho científico e que os cientistas têm de ser pagos. Bem, é claro, porque o merecem. Também sei que os fabricantes dos medicamentos têm que ter lucros. Muitos lucros, já percebemos, mas a comercialização tem de ser assim tão cara? Falamos do medicamento mais caro do mundo. Aquilo é alta-costura? É fórmula 1? É alta-competição? Um medicamente que é necessário para salvar vidas, é criado para salvar que vidas? Só os milionários têm a salvação à mão?
Os Estados e a União Europeia, que entornam tanta liquidez financeira em projectos de importância mais do que duvidosa não deveriam olhar para estes casos com olhos de ver ao perto?
Para estes casos e para todos os outros que precisam de apoio público, como os aparentemente apoiados pela doutora Jonet e pelos doutores escuteirinhos. Outra coisa é o Presidente Marcelo, ainda ungido pelos princípios herdados do Estado Novo, fazer o que achou que poderia fazer porque é Presidente, esquecendo-se de que é Presidente de uma República e não rei. Os favorecimentos por cunha não devem ser mato para as chamas do vocabulário dos energúmenos da extrema-direita, que são os primeiros a aplicar favorecimentos quando são poder.
É exactamente isto que está em causa: a extrema-direita portuguesa — IL e Chega — anda num fervor justiceiro a criticar o Serviço Nacional de Saúde. Serviço que não existiria se fossem eles a mandar. E, depois de uma pandemia tão agressiva, não existiria Serviço Nacional de Saúde nem nós. Alguém tem dúvidas.