ERRARE HUMANUM EST | Aqui há uns tempos — não muitos que a humanidade é uma criação recente — as missas eram celebradas em latim. Os padres diziam o que lhes apetecia e o povo ouvia sem perceber um boi. Tipo: boi a olhar para palácio. O perdão dos pecados era ditado na língua autócnone que era para o crente saber bem a pena aplicada. Como errar é humano, com uns padres-nossos e umas avé-marias a coisa compunha-se.
Na campanha eleitoral ouvi o entretanto eleito Presidente da República dizer que um presidente católico é uma vantagem a acrescentar a todas as outras que um ser humano possa possuir. Os católicos são ungidos por uma compreensão que nos escapa. São superiores. Sabem perdoar porque detêm a razão. Nestes tempos de conturbado espanto, o erro faz parte do dia-a-dia. Diz-se um disparate hoje, desmentido por outro amanhã sem que daí venha mal ao mundo. Procuradores justicialistas erram e juizes também, mas nunca se assumem responsabilidades. Já existem fascistas a boicotar acções de gente que quer ser gente, sem que os responsáveis políticos se pronunciem ou indignem. A extrema-direita — fascista, pois então — anda pelas redes sociais e pelas televisões institucionais como gato em telhado. O erro dissolveu-se na espuma dos dias sem que se perceba onde está a espuma preta. Tudo parece normal. Uma procuradora-geral da república erra, derruba um governo, provoca uma crise, e há quem ache isto tudo normal. A extrema-direita rejubila. O Presidente já disse que garante lugar aos fascistas na maioria apoiante de um governo de direita. Já tivemos um Presidente de extrema-direita — Cavaco era o quê? — que não foi tão longe como este "moderado" da direita dita social-democrata. A social-democracia é outra coisa, senhores do PPD/PSD. Um social-democrata despreza fascistas. Fascistas são desprezíveis. Deixem estes cães de duas patas ladrar. Deixá-los entrar na carruagem da democracia é um erro. Errar é humano, mas assim tanto?