sexta-feira, 3 de março de 2023

A grande barafunda



Estou preocupando. Muito preocupado, acrescento. Sempre fui anti-proibicionista. É proibido proibir. Greves e manifestações são necessárias. As actuais decisões dos professores são basicamente legítimas e apoiáveis. Mas, esmiuçadas todas as reivindicações, o caso muda de figura. Há ali exageros que preenchem outras agendas obscuras, cada vez mais perceptíveis. Já vi um professor auto-promover-se a herói. Diz que é o que pensa dele a sua filha. O homem está convencido de que está a fazer história. Di-lo com visível emoção. Vi outro professor apelar à revolta de todas os grupos profissionais: aproveitem esta justa onda, oficiais de justiça, enfermeiros, médicos, malta dos transportes, da indústria, toda a gente. Venham para a rua, apela o didáctico senhor professor. Entretanto já se fala cada vez mais em Passos Coelho, o recordado líder de extrema-direita que, quando foi primeiro-ministro, não corrigiu absolutamente nada do que poderia ser corrigido, ajustando apenas como um sádico os salários e reformas de quem vive precisamente desses rendimentos. Acima das suas possibilidades, dizia. Havia uma solução. Há sempre uma solução para tudo: emigrem. Vão lá para fora ganhar a vida. Solução prática e inteligente. Suprimiu feriados como se isso fosse ajustar alguma coisa, e declarou que era preciso assegurar a saúde das pessoas mas "não a qualquer preço". Ainda bem que não governou em pandemia. Pôs Nuno Crato a aplicar soluções serôdias, desajustadas de uma educação contemporânea. Um traste. Um perigoso biltre que provoca saudades a gente sem tino. E aos fascistas todos, é claro. Se Passos Coelho regressar e substituir o tótó que actualmente manda no partido dito social-democrata, a aliança com o repugnante Ventura está garantida. E aí as manifestações e greves terão um tratamento diferente. Não tenhamos dúvidas.

Voltando à preocupação inicial: estou preocupado porque não quero isto. Penso que ninguém que pensa e trabalha o quer. Por isso gostava que as negociações fossem razoáveis e acertadas em consentimento destas preocupações. Acredito que sindicalistas e Governo podem ser razoáveis e perceber isto: há perigos maiores que nos ameaçam. Pessoalmente não acredito no homem do STOP. um egocêntrico radical sem trambelho. Um irresponsável, com um discurso básico e inconsequente. Perigoso. Percebe-se que não quer saber do que poderá acontecer se a sua agenda reivindicativa for totalmente preenchida. Só a gritaria e a alarvidade o movem. Um deputado do partido fascista já anda nas manifestações. Pareceu-me bem vindo à causa. Lamentável.

Dito isto: é claro que muitos dos meus amigos não concordam comigo. É a vida. É que estou preocupado com o que aí vem. Só isso. Não acredito no salve-se quem puder. Acredito na sensatez de outros negociadores envolvidos. Isto vai passar. Eles é que não.

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