domingo, 22 de janeiro de 2023


As palavras armazenam-se como torrões maduros
São flexíveis à memória são marinheiros em terra

Acontece dizer: levantem-se e caminhem

Mas quem somos e que hábito envergamos?

As palavras entontecem

Quando dispersas levantam rumos vários

                                                 José Afonso






Usamos as palavras sem nos apercebermos da estética que encorpam. 

Tanto tipo de letra por perceber. Tanta palavra por alinhar nas carreirinhas do pensamento diário. 

São as letras que nos acompanham na percepção dos dias. Nos momentos bons e nos momentos difíceis.

Há sinaléticas que definem profissões. Há letreiros que nos indicam afazeres ou simplesmente um caminho.

Mesmo o que não tem palavras terá de ser definido por palavras.

Este palavrar dita-nos prazeres e mágoas. Assiste-nos e dispensa-nos. Somos vida. Somos palavras.


Vamos criar alfabetos imperceptíveis. Para que se tem de perceber tudo?

Vamos tentar perceber, sim, a razão de termos escrita. 

Vamos olhar para o que se escreve com olhos de olhar e ver.


Não existem influências estéticas neste projecto. Ou existem, pronto. José Afonso tinha exigências visuais estéticas. Convocou designers e fotógrafos para as capas dos seus discos: fotógrafos que sabem ver. Designers que sabem criar imagens. O poema de José Afonso que encima este palavrar sugere a multiplicidade de rumos para as palavras. As palavras definem rumos. São os caminhos livres de obstáculos. Sem pedras.


As palavras entontecem 

Quando dispersas levantam rumos vários


A caligrafias imperceptíveis vamos associar motivos de denúncia. Denunciar a violência. As agressões aos desprotegidos. A agressão neoliberal que se atreve a convencer os incautos de que é civilizada. O fascismo que se aproxima dos poderes institucionais. 


São os elementos tipográficos que nos interessam neste projecto. Camadas de palavreado em protesto ou simples reparo. É de intervenção, esta exposição. 


Estética/ética. Sem insistências moralistas. Com assertividade política.

Política é fundamental. 

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