domingo, 20 de novembro de 2022

Vergonha alheia


Para que os milionários do pontapé na bola possam exercer a sua actividade, e para que milhares de amantes deste desporto possam assistir confortavelmente aos desafios, 6500 pessoas morreram durante as obras de construção dos estádios. Isto é normal? Não, não é. 

Nas conferências de imprensa foram deliberadamente esquecidas as perguntas sobre os atentados aos direitos humanos, num sítio onde a agressão é permanente. Alguns apoiantes tornam a coisa relativa esclarecendo que não têm dado por execuções. Ficam para depois dos jogos? Isto é normal? Não, não é. O treinador português que dirige a selecção do Irão, perante uma pergunta de um jornalista britânico que o interroga sobre a maneira como são tratadas as mulheres naquele país, responde com esta pérola: quanto é que me paga para eu responder a essa pergunta?, passando depois para a ironia de gosto duvidoso. Isto é normal? Não, não é. Um fulano que designam como embaixador do futebol diz que a homossexualidade é "doença mental", e acrescenta que as regras ali são as deles e têm de ser cumpridas. Isto é normal? Não, não é. Também não é normal que o Estado português se desloque em peso em apoio à selecção. Nem é normal que o secretário-geral da ONU se tenha deslocado àquele inferno para assistir às cerimónias de abertura. Abertura exuberante que se apresentou em grande exibição do poder financeiro. Piroseira e gastos sem precedentes. Uma baboseira sem tino, nem vergonha. Isto é normal? Sim, é. Esta gente é assim. Parolos criminosos sem vergonha porque não sabem o que isso é. 

Este mundial de futebol deveria estar a ser rejeitado por quem gosta de facto de futebol e de desporto. Não tenho qualquer orgulho em ver pessoas da minha terra a jogar por lá. Nem em ver os responsáveis políticos do meu país em apoio àquela luxuosa choldra. Não vale tudo. Isto é vergonhoso.

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