Publiquei este texto em 2 de agosto de 2018. Adaptei-o agora para assinalar mais um aniversário de José Afonso. A sua música e o seu exemplo continuam aí. Nunca será esquecido.
José Afonso nasceu há 93 anos. Morreu com 57 em 1987. Assinalo sempre estas duas datas porque acho importante salientar a existência de um português que viveu com os pés neste mundo. Desde cedo que tentei encontrar também um mundo onde me sentisse bem. José Afonso apontou-me um caminho — Respeito pelo que existe, exigência na observação, solidariedade na acção. Mudou o mundo da cultura em Portugal. Passámos a ter orgulho na cultura portuguesa a partir dele. Dele e de Fernando Pessoa, que era poeta da sua estima. O melhor de Portugal passou a estar a par do que ele fazia. Transformou melodias populares em grandes músicas. Reinventou sonoridades. Manteve atitudes. Teve ideias e praticou-as. Foi corajoso. José Afonso não foi um cantor popular, lamento não estar de acordo com os classificadores opinadores. João de Freitas Branco inscrevia-o nas mais altas definições, ameaçando perder o respeito pelos tais classificadores. Eu acho que José Afonso se inscreve em outras definições, de facto. O experimentalismo e a procura de novas sonoridades fazem mais jus às preocupações do autor. Ouço José Afonso — muitas vezes — e associo-o mais aos desenvolvimentos performativos de Laurie Anderson, do que aos desempenhos ditos populares. Outros exemplos poderia procurar, mas guardo a conversa para uma ideia que me persegue: um dia discutir isto com autores contemporâneos. Tentei fazê-lo no passado. Desafiei Carlos Martins e Filipe Raposo para o debate. Eles aceitaram o desafio, mas tinham a agenda preenchida. Para 2024, ano em que se comemoram os cinquenta anos da conquista da liberdade, não vai falhar. Vou tentar juntar ao grupo Rui Vieira Nery e vai ser num Muito cá de casa na Casa Da Cultura | Setúbal. Foi bom termos tido José Afonso entre nós. Foi melhor ainda tê-lo conhecido. E continua a ser muito bom ouvi-lo.