sábado, 9 de julho de 2022

José Bandarra



O lançamento foi um daqueles momentos. O livro estará à venda na Culsete e na Casa Da Cultura | Setúbal.

Partilho aqui o texto de introdução que "produzi" para figurar no livro. Leiam o livro. Vale mesmo a pena.

SER ANDARILHO
FAZER PELA VIDA
As palavras armazenam-se como torrões maduros
São flexíveis à memória são marinheiros em terra
Acontece dizer: levantem-se e caminhem
Mas quem somos e que hábito envergamos?
As palavras entontecem
Quando dispersas levantam rumos vários
José Afonso

Há vidas que dão filmes. E os filmes saem das palavras. São as palavras que nos situam no espaço, na memória dos dias passados. Passamos pela vida sem grandes preocupações de retórica. Vemos os filmes que os outros fazem. Emocionamo-nos com fitas estendidas por gente que não conhecemos. Somos gente, muitas vezes revemo-nos nesses contextos. Ornamentamos o nosso imaginário. Ficamos contentes por nos sentirmos integrados em documentos alheios mas que nos aproximam de sentires e saberes. Apreciamos as biografias de quem admiramos. Nem todos sentimos vontade de contar a nossa passagem por este mundo tão preenchido de atropelos e tropelias. Coisas más e coisas boas que nos agridem ou consolam, mas que mais tarde nos provocam um simples esgar de riso.
José Bandarra resolveu contar o que viveu até hoje. Escolheu uma idade que lhe permite olhar para trás e perceber o que correu bem e o que correu mal. Como está bem com a vida, conta o que lhe aconteceu, e que não é mentira nenhuma, com a simpatia dos homens bons. Sabe viver. Sabe contar o que vive. Trabalhou muito. Desde muito cedo. Andarilhou léguas em busca do conforto que todos merecemos. Estudou. Acrescentou ideias aos estudos adquiridos. A ideologia é importante. Ter ideias é preciso. Mas não se ficou pela comodidade do discurso ideológico. Cresceu intelectualmente. Criou a sua própria maneira de olhar o horizonte. Soube escolher a água para beber. Sabe estar com quem sabe e com quem quer saber. Gosta dos outros seres vivos. Deslumbra-se com a natureza e respeita os animais, seus irmãos de ternura e sabedoria. Este testemunho que agora nos veio parar às mãos é um tratado de benevolência. Um convívio com gente de todas as vontades e feitos. Um deambular por lugares que nos esclarecem a ternura, mas também a revolta. A revolta que nos instala a alegria de um dever cumprido. “Devemos ser gente, não homenzinhos e mulherzinhas, mas sim gente”, disse uma vez José Afonso, seu grande amigo e professor, nas aulas que frequentou no Círculo Cultural de Setúbal. Este livro é um apelo à dignidade humana. À escolha de sermos gente com os olhos e sentidos bem abertos. Sinto gratidão e orgulho por estar aqui a participar neste empreendimento tão pessoal e tão nosso também. Muito obrigado por isso, José Bandarra.