Era esperada, mas não era. É sempre uma surpresa, a morte dos amigos. Jorge Silva Melo morreu. Devemos-lhe tanto, tanto. Os que ainda não deram por isso, talvez não percebam a nossa tristeza. Devemos-lhe uma outra maneira de olhar para o teatro e a cultura. O respeito pelos actores, pela gente de teatro. O respeito perla autenticidade da literatura, nas traduções rigorosas. O seu livro Século Passado é um tratado de lucidez e compreensão da espécie a que pertencemos.
Deslocava-se a Setúbal, à Casa da Cultura, para dizer e falar da poesia dos nossos melhores poetas. A iniciativa Em Voz Alta foi uma pérola que deslumbrou esta cidade. Também aqui apresentámos o seu Século Passado, em noite inesquecível, na Casa da Avenida.
Este fim é o fim de muito do que nos fez felizes e sabíamos. Vais-nos fazer muita falta, Jorge. Muita mesmo. Mas vamos recordar o teu melhor, que era muito. Mesmo muito. Obrigado, meu querido amigo.
Imagem: momentos das sessões Em Voz Alta. Nas fotografias com Maria João Luís e com Lia Gama, amigas participantes — entre muitos grandes actores — nestas iniciativas memoráveis.