terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Debater o impossível


A entrada da extrema-direita na corrida — Iniciativa Liberal e Chega — afastam-me a 
 curiosidade de assistir aos debates. O representante dos novíssimos liberais que não sabem viver sem Estado sempre aparenta ser mais civilizado, mas o escroque do Chega revela-se cada vez mais um fascista em furiosa exaltação. 

A agressividade sem vestígio de nível cultural e o perfil político sem trambelho trazem-me logo à cabeça a peça de Tiago Rodrigues — Catarina e a beleza de matar fascistas — tirando-me a vontade de passar os óculos pela tristeza do debate que a reles criatura protagoniza. Claro que é bom ver a criaturinha "levar porrada" de adversários e até dos seus parceiros ideológicos, mas mesmo aí, o risco de o debate cair na pocilga é grande. Outro autor lúcido surge para nos animar: Nunca lutes com um porco. Ficas todo sujo, e ainda por cima o porco gosta. Foi Bernard Shaw que o disse, e disse muito bem. Pois é: o porcalhão do partido com nome de detergente já tentou dar nas vistas de todas as maneiras que se lhe aparentaram possíveis: Cursou direito na Farinha Amparo, defendendo o que achava ser justo e precisamente o seu contrário, escreveu livros de embrulhar castanhas no inverno, comentou futebol aos gritos que é como acha que o futebol deve ser comentado, e mais recentemente abraçou a política acalentado pelo cínico tenebroso Passos Coelho. Nos poucos resumos dos debates televisivos a que tenho assistido — já aqui disse que a criatura me causa desconforto intelectual —, percebo que utiliza o não-debate para debater. Prefere o insulto e a miserável farronquice para se impôr na contenda. Debate o impossível porque sabe que o seu eleitorado poucochinho gosta disso. Ideologicamente não passa de um miserável fascista. Um inclassificável oportunista sem ponta por onde se lhe pegue. Inimigos e adversários "dão-lhe nas trombas" nas calmas. Só Rui Rio falhou. Ou talvez não. E é aí que está o perigo maior destas eleições. Os políticos de direita são tristes, serôdios, mas estão sedentos de poder. Querem ajustar tudo às suas pequeninas pretensões. Há muita gente que já se esqueceu dos ajustes de Passos. Basta ver Moedas a triunfar em Lisboa. Votar na direita é mais do que nunca muito perigoso. A direita nunca traz nada de novo. Anda sempre à volta das coisas velhas. 
Contra a direita, sempre!