Antoni Tàpies disse uma vez, em entrevista, que um rabisco num muro o poderiam emocionar mais do que todos os museus do mundo. Exagero? Talvez. Mas não é a ousadia que nos faz evoluir?
Eu começava a procurar a exigência e o absolutamente extraordinário. A grande arte provocou-me uma extrema curiosidade e transformou-me como pessoa. A declaração do artista catalão moeu-me a moleirinha. Procurei perceber o que quereria dizer com aquilo. Se não tivesse percebido também não tinha importância nenhuma. A percepção das coisas tem limites. E há coisas que não é preciso perceber. Procurei então outros companheiros de Tàpies. António Sena apareceu-me no caminho com uma escrita/desenho que me impressionou e me apontou outros exemplos. A pintura de Sena é intensa. Agride. Tem uma existência que se instala naquele insistente rabiscar. A cor vem da natureza, parece-me. Mas o uso da tinta nas superfícies desgastadas pelo traço dá a esta pintura uma autenticidade emocionante. Não existem aqui soluções habilidosas. A dúvida regressa sempre. Percebi Tàpies. Percebi Sena. Ou talvez não. A dúvida nunca se esbate. A tentativa de percepção do que nos rodeia provoca-nos a curiosidade intelectual que não devemos perder. Acomodarmo-nos? Nunca.