Escrevinhei este texto para a folha de sala que acompanha a exposição exibida no Café da Casa da Avenida. Partilho-o por quem não tem a oportunidade de se deslocar a esta casa de excepção.
QUANTAS HORAS TÊM OS DIAS? | Ou o que fazer com o tempo quando há tempo para tudo?
Observando as fotografias de Fernanda Carvalho
O Tempo, esse grande escultor, como pretendia Yourcenar. O tempo que sobra, quando os dias têm a dimensão de uma longa noite. Gerimos os "resíduos de Lar", como disse um dia José Afonso, em Era um redondo vocábulo. Ditamos as horas de outras vigílias. Olhamos para o passado que nos foi próximo. Autorizamos a recuperação das coisas mortas. Limpamos o pó das superfícies, deixando os vestígios que o tempo ditou. Há tempo para tudo, e tudo tem o seu tempo. Reinventamos o amor. Insistimos no amor. Caminhamos pela casa e reparamos no móvel vazio. As recordações despertam-nos para um tempo difícil.
É muito difícil estarmos sós entre os despojos de outro tempo. Entre o passado e o futuro. Entre o que fomos e o que pretendemos ser. Queremos sobreviver a isto. Sobreviver não: VIVER. Assim, em voz alta. Viver como dita a vida. Com os olhos e os sentidos bem abertos. Não deixaremos de ter atitudes. De olhar e ver. Voltaremos a estar com quem amamos. Essa curiosidade arrebata-nos. Vamos voltar a estar uns com os outros. Pedimos tão pouco. Só isso: o essencial. O absolutamente necessário. A nossa vida.[José Teófilo Duarte]
QUANTAS HORAS TÊM OS DIAS?
Fotografias de Fernanda Carvalho
MAIO/JUNHO. 2021
CASA DA AVENIDA
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