Expôs na galeria da Casa da Cultura-Setúbal, em julho de 2020, e eu alinhei estas palavras na folha de sala.
Sofia Areal escreve nas telas e nos papéis que lhe vão dar à mão. Não histórias para ler de carreirinha, mas sim orientações para uma outra compreensão das coisas.
A dúvida instala-se em cada traço, em cada volta que a trincha dá. Se sabemos o que vamos fazer, para quê fazê-lo?, disse uma vez Picasso. Percebe-se que Sofia se atira aos suportes com ganas de contar aquela história que quer mesmo que seja ouvida, mas novos trilhos surgem às primeiras investidas. Há ali um profundo conhecimento que não permite a facilidade. Um inevitável desviar de rumos eivados de uma enorme vontade de não cumprir traçados prévios. Tudo é diferente no momento seguinte. Tão diferente. A aplicação circular da tinta permite-nos imaginar o gesto. Esta gestualidade está “pro- gramada” para se desviar do alinhamento prévio. Aliás, não existem predefinições. O esboço vai circulando em busca da vontade de expressão. Imaginamos uma pintura feita com o corpo todo. Gestos vigorosos que abraçam a superfície em grande reboliço. As premissas que ditam um fim, a conclusão, não são o chão que a artista pisa. Nada fica acabado. Não pode. A imaginação não acaba nunca. Não sei se é difÍcil para Sofia desenvolver este trabalho. Nem isso me interessa muito. Mas tento perceber o envolvimento do corpo nestas histórias aqui mostradas. Nestas aventuras alegres e com finais felizes. É tão bonito perceber isso.
Podemos olhar mais trabalhos da Sofia aqui: sofiaareal.com