Estamos perante uma eleição complicada. Há quem tenha a percepção de que o poder do Presidente não tem importância nenhuma. O poder executivo pertence ao governo, logo que se lixem as eleições para a Presidência. Não é bem assim. O Presidente tem poder e exerce-o. Por acaso até temos um bom exemplo em Marcelo. Não dividiu para reinar, apoiou ou vetou como achou que o deveria fazer. Com preconceitos ideológicos, é certo. É a vida. Claro que o estrelato o fascina, mas para pior já basta assim.
Com a entrada no terreno de um candidato fascista — apoiado por Le Pen e fã de energúmenos como Trump e Bolsonaro. E aconselhado pelo salazarista Nogueira Pinto, com a esfinge do velho das botas como ornamento inspirador — é preciso dizer em voz alta que não queremos o regresso a políticas caseirinhas de chinelo, iluminadas por uma evidente tacanhez mental e aplicadas por um ridículo mas agressivo toque de caixa. O discurso trapalhão e sem consistência do alarve que representa a extrema-direita é excessivamente mau, mas há quem goste de chafurdar na pocilga do ódio. Os que votam num cretino desta estirpe só podem ter problemas cognitivos graves. Mas esses podem sempre ser ajudados por psicólogos ou psiquiatras que se documentaram para assistir a casos mesmo já em estado avançado. Votar é uma responsabilidade. É votando que, em democracia, dizemos o que queremos.
Mas a democracia pede mais participação. O que está mal também pode ser culpa nossa, se nos manifestamos apenas para arrasar sem eito. Agora, nestas eleições, a nossa participação cívica na democracia conquistada consiste em votar nos candidatos que desprezam a tacanhez mental e rejeitam o estilo básico do farroncas fascista, que ainda há um bocadinho era outra coisa qualquer. Mas também é alertar para a necessidade de votarmos contra este estado mental. Abstenção ou voto nulo, nunca. Um escroque faz o que for preciso. A extrema-direita encontrou um homenzinho ridículo, sem pitada de vergonha de o ser. Nós temos que votar no candidato que achamos que é o melhor para rejeitar o bandalho fascista. E temos que votar em quem lhe faz verdadeiramente frente. Vamos votar na esquerda para mostrar que somos mais e melhores. Escolhemos em quem votamos, votando em quem achamos que defende o que nós defendemos. Mas votemos. Mesmo. A lucidez democrática exige-o.