UNS JÁ O SABEM, OUTROS NÃO TANTO... | Pedro Cabrita Reis responde aos arautos do miserabilismo e da cultura poucochinha. Texto esclarecedor, ou nem tanto. Os arautos do "antigamente é que era bom" passam por estes esclarecimentos como cão por monumento. É a vida.
A linhas tantas, diz o Pedro: Parece ainda haver quem ache que uma obra de arte só o seria quando ornada pelo sofrimento, perlada pelo suor do trabalho, arrancada com a fúria própria de vulcões emocionais que, incendiando o atelier, trariam por fim o fulgor da Mão, sem a qual a Obra não teria a patine da Verdade, assinatura espiritual e insubstituível do Artista, criatura demiúrgica tocada pelo Destino.
Reivindica-se aqui um modelo inventado pelo Romantismo, imagem hoje anacrónica mas que ainda perdura. Pobre figura, isolada e melancólica na solidão obscura do seu atelier, abandonado por todos, perseguido pelo senhorio e assediado pelo dono da tasca, marginalizado enquanto pessoa e rejeitado enquanto artista, prestes a suicidar-se ou, no melhor dos casos, a cortar uma orelha, mas inexorável e infatigavelmente artesão. Tocado por Deus que lhe ilumina as mãos, cria então a Obra, assim se revelando finalmente como Artista.