ETERNIDADES ACUMULADAS | O que é a eternidade? Carl Sagan fala de acumulação de objectos que formam galáxias. A eternidade não se define. Não é fácil definir o que está sempre a acontecer. O que Pedro Pedrosa da Fonseca faz com o seu trabalho é uma interpretação pessoal das transformações esculpidas pelo tempo. Há sempre a tentação de parafrasear Yourcenar. Nestes trabalhos que nos mostra, na Casa da Avenida, desvenda mistérios e contorna realidades. O tempo que passou é importante para percebermos o presente e preparar o que aí vem. Mas o que aí vem, quando se fala de transformação do universo, é impossível de prever ou definir.
Ainda há um bocado, na minha ronda pelo que me interessa no facebook, deparei com um post de Ana Cássia Rebelo — a famosa Ana de Amsterdam —, em que ela, ao olhar umas árvores, em Cochim, citando um conto de Milton Hatoum, remata: a natureza ri da cultura. Lembrei-me de Bukowski quando escreveu, numa passagem de um dos seus livros: a literatura aperfeiçoa a realidade. Ora bem, andamos nesta odisseia: interpretamos e tentamos melhorar o que interfere com a nossa vida. A natureza é sempre mais hábil e inteligente. Mas nós insistimos. Catarina de Carvalho Lopes, termina o texto que apresenta a exposição com esta frase: E não será a contemplação do tempo, quando o olhar alcança o cosmos, um reflexo do nosso desejo de conquistar a eternidade nesta odisseia?
Pedro Pedrosa da Fonseca sugere esta premissa com estes desenhos e acumulações de matéria. E faz tudo isto tão bem que atrevo-me a definir esta exposição como altamente frequentável. Está na Casa da Avenida até ao próximo fim-de-semana.
O DE ODISSEIA
Pedro Pedrosa da Fonseca
Casa da Avenida - galeria
Avenida Luísa Todi, 288. Setúbal