sexta-feira, 17 de agosto de 2018

CULTURA, TOUROS, PORRADA E MORTE | A minha aversão a touradas é de ordem ética e estética. Um animal não se trata mal. Não se agride outro ser vivo de maneira gratuita para diversão de gente de curiosidade intelectual diminuta. Sim, por favor não venham com os Picasso, Hemingway e Ortega y Gasset outra vez. Não os desprestigiem mais. Eles foram bons no que fizeram, ponto. Uma tourada é qualquer coisa de esteticamente deprimente. Não entendo como pode alguém divertir-se com uma exibição de valentia preparada, estando o adversário, apesar de superior em força, devidamente reduzido na sua reacção ao ataque. O meu entendimento da coragem e da tradição cultural não se diluem nestas performances taurinas. Qualquer manifestação de valentia exercida pela violência física provoca-me asco. É passado. Não é civilizado.
Mas sabemos que é por isso mesmo que os apreciadores vão às praças. Querem medir forças. São representados pelo toureiro. Querem vencer a fera que, incrédula, vai resistindo enquanto pode. Vencida, arrasta o sangue e o sofrimento pela arena. Sangue, Sofrimento, Vitória. Os apreciadores querem sangue, agressão, violência.
Se tourada é cultura, o que aconteceu em Albufeira diz muito sobre a procura cultural dos aficcionados. Quando a fera não está na arena, agride-se quem está em sua defesa. E pede-se a sua morte. Na arena pede-se sempre a morte. Desde o tempo das arenas romanas, em que os vencidos eram os humanos.

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