sábado, 9 de janeiro de 2016

MARCELO MÃOS DE TESOURA | Marcelo fingia que dormia. Depois acordava e dava um passeio pela avenida das televisões. Aquilo era um papelinho: come pouco, dorme pouco, lê muito, é um professor de respeito, um político experimentado, um trabalhador sem descanso, enfim, uma categoria de uma pessoa. Nunca ninguém lhe tinha dito que a vida política é mais do que essa farronquice. E muito menos lhe tinham dito que ele é muito menos do que apregoa e pouco mais do que um troca-tintas. Marcelo fingia ser já Presidente. Pensava que não era preciso fazer por isso. Todos os candidatos que contam fizeram de Marcelo um candidato. E todos os candidatos que contam obrigaram-no a revelar-se o intriguista, o indelicado arrogante, o irresponsável político e o analista superficial que ele sempre foi. A simpatia irradiante deixou de existir. As análises a tácticas e estratégias como se tudo fosse táctica e estratégia deixou de fazer sentido. Os cortes nas casacas de toda a gente que não se veste ao seu gosto deixaram de ter graça. Os cortes a direito como se a razão fosse sua propriedade provocam o riso. Agora tem quem lhe diga que há outros caminhos. Mais sérios. Marcelo vinha buscar lã, mas sai tosquiado. 
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