quarta-feira, 1 de abril de 2015

OS DIAS NÃO SÃO TODOS IGUAISEra sempre no primeiro dia de Abril. Desde pequeno que me lembro desta graçola: hoje é dia das mentiras. E lá vinha uma mentira qualquer para animar o pagode. Os jornais e as televisões, limitados ao preto e branco possível, noticiavam mentirosa novidade com o propósito de divertir. Lá em casa nunca divertia. Irritava. Habituei-me assim a ficar irritado com trapalhadas fúteis. O ensino era deprimente. Não me venham com a lengalenga de que antigamente é que era bom, como sugere o conferencista Durão Barroso. A miséria era mato. A fome convivía com naturalidade. A vida é assim, nada a fazer. Era a política dos cofres cheios e do povo sem cheta. Era a política do "ir ao pote" quem pode. 
Até que Abril passou a ser outra coisa. O dia 25 do mês mudou as nossas vidas. E alegrou-as. Eu tinha quinze anos. Passei a ter acesso ao que até então era proibido. Isso não mudou, apesar de as políticas impostas pelos actuais governantes fazerem lembrar a autoridade do passado. A política é para os políticos. Os cofres estão cheios, fiquem descansados. E outras atoardas não mencionadas aqui por motivos estéticos.
Pois é, apesar destes atropelos, hoje temos voz, podemos ouvir a voz dos outros, temos acesso a uma cultura então maldita e excluída, melhorámos substancialmente na qualidade de vida. Existimos e exigimos. Votamos.
A gente percebe que alguns dos protagonistas da política de hoje podiam sentir-se bem nos banquinhos do salazarismo. Mas nem todos estamos rendidos ao tacho, que diacho.

Esta última frase é uma homenagem a Nuno Bragança. Ele terminou assim uma crónica de jornal que eu nunca mais esqueci. A imagem é a capa da revista Cinéfilo que noticiava um acontecimento que foi cor no cizentismo da época. É que houve sempre alguém que resistiu. Houve sempre alguém que disse não.
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