quarta-feira, 28 de maio de 2014

SOLUÇÕES OU ILUSÕES?Naquele tempo, na Europa, os ajustadores da moral conservadora e da rigorosa aplicação financeira brotavam como silvas. Uns foram impostos à força, como se outra solução não existisse. Outros chegaram ao poder através de eleições. Foi um tempo tramado, aquele. Por cá, Salazar surgiu como salvador.
A ditadura era o remédio para todos os males. A repressão anulou as leis. Instalou-se a lei da porrada de criar bicho.
A polícia política era a ordem. Ainda hoje há quem clame pela “excelência” da educação, pela disciplina e pelo controlo dos bandidos – sufragistas, comunistas e outros socialistas. E há quem diga que sempre disse o que pensava sem problemas. Liberdade para quê?, dizem. Os que o dizem têm razão. O regime fascista nunca reprimiu quem não tinha nada para dizer. A banalidade sempre foi livre. Mas há uma questão que nunca passou pelas curtas mentes de quem defende essa retórica da alarvidade. É que não foi só a liberdade de termos opinião que nos trouxe o fim do Estado Novo. Foi também a liberdade de nos exprimirmos e lutarmos pelas nossas covicções. E, mais importante ainda, podemos ouvir as opiniões dos outros. As nossas opiniões valem em democracia. Podemos procurar o conhecimento. Não há opiniões proibidas. Vemos, ouvimos e Lemos (como pretendia Sophia), não podemos ignorar. A grande vantagem de vivermos em liberdade e em democracia é esse acesso à procura do conhecimento e, consequentemente, a possibilidade de lutarmos pelas nossas opiniões, direitos sociais e também pela vontade de existirmos em clima de felicidade. É a nossa vontade de querermos ser felizes que os novos adeptos daquilo a que chamam rigor querem ajustar. O que hoje nos é sugerido por “sociais-democratas” de encher e vazar não está longe do que foi proposto pelo escroque que nos “governou” e permitiu que os seus se governassem durante quarenta e oito anos. Sim, não nos venham com a lengalenga da “grande honestidade” e “rigor orçamental”. O Estado Novo foi uma ilusão, não uma solução. A corrupção e o atropelo foram permitidos aos que o tirano de Santa Comba escolhia como seus. Os tiranos aparecem quando tudo parece estar a arder. Apresentam-se como os generosos soldados da paz. Como aqueles bombeiros de serviço que incendeiam para depois surgirem como os heróis do apagamento salvador.
Os ajustamentos de hoje protegem a felicidade dos que governam o mundo. Nós não temos nada a ver com isso. Pela nossa felicidade lutamos nós.
 


Foi em 28 de Maio, há oitenta e seis anos, que Salazar iniciou a sua cruzada isolada contra o mundo. É sobre esse atropelo que vamos falar na próxima sexta-feira na Casa da Cultura, em Setúbal.
É mesmo preciso perceber como aquilo foi possível, para entendermos o que nos está a acontecer hoje.
Não esquecer para que não volte a acontecer, pois claro.
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