domingo, 15 de dezembro de 2013


RESENDES VENTURA - MANUEL MEDEIROS | Viriato Soromenho-Marques deu aula brilhante. Fátima Ribeiro de Medeiros deu testemunho. António Ganhão moderou o debate. São dele estas palavras que se seguem (publicado no acrítico). Muito obrigado a todos.

Calhau rolado
a forma formei
o gato pescou
também eu tentei
o mar recusou


procuras sentido?
p’ra tudo há razões?
ó meu convencido
ao mar nada impões
Numa iniciativa do Muito Cá de casa, esta recolha de poemas de Resendes Ventura / Manuel Monteiro (1936-2013), quase todos inéditos (com exceção deste Calhau roladoque foi publicado num blog), é uma homenagem que antecede o lançamento, no próximo ano, de uma antologia da sua obra poética. A recolha de poemas pertence a Fátima Medeiros sua mulher, revisora e editora. A coletânea que está a ser preparada, reúne parte significativa da sua produção poética, com alguns inéditos, projeto para o qual Manuel Medeiros deixou instruções precisas.
Esta poesia, agora reunida, especialmente nos poemas de 2012 e 2013, oferece-nos uma reflexão sobre a nossa finitude. A verdadeira dimensão do homem é posta à prova no momento em que este encara a proximidade do seu “fim de ciclo”. A tranquilidade com que se revê no caminho consumado e, sorrindo, percebe que “ao mar nada impões”. Tudo o que então se foi, perdura e se sobrepõe à erosão do tempo. Afinal, habitamos a fragilidade de um templo.

chamo o outro de mim que já fui e sou ainda
Uma lucidez atravessa esta poesia, um celebrar da vida com uma coragem que dispensa a lamúria. A tranquilidade de quem alcançou a liberdade para além do tempo e pode lançar um desabafo final:

Viver mais não me dá jeito
posso dizê-lo à vontade
que a vida que tenho feito
permite essa liberdade
Viriato Soromenho Marques afirmou ser esta uma poesia que pensa, do domínio do auditivo, da imagem induzida pelo som e da reconciliação com aquilo que sabemos não conseguir explicar nem entender. Nem recompensa, nem castigo (longo foi o caminho percorrido por este ex-seminarista).
O ciclo da vida, sem nunca perder a sua beleza, fecha-se em nós como um lapso de tempo onde se entra de olhos vendados.

Venda-me os olhos amor
e o belo seja onde estar

À venda na loja da Casa da Cultura de Setúbal e na Culsete.