terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A TODOS UM BOM NATAL | Não vou em fantasias. O Natal é a maior das fantasias que o ser humano inventou. A data não corresponde a nada. É um requisito tendencioso que obedece a exigências de facções religiosas. Mas há mudanças na propaganda. O Papa Francisco revela-se contra o capitalismo selvagem, reconhece minorias, é pela paz e pelo diálogo, recomenda razoabilidade aos políticos e revela-se uma pessoa normal, muito longe de um eleito pelo Espírito Santo. Pelos vistos, todos os outros foram o seu contrário: e a gente sabe que houve Papas guerreiros, mas adiante. O Papa Francisco é um grande Chefe de Estado. Dito isto, ainda bem que existe o Natal e ainda bem que Francisco é como é: é bom para que algum comércio corra melhor e permite aos crentes serem bonzinhos pelo menos uma vez por ano. Os pobrezinhos são ajudados à porta dos supermercados, depois de os donos dos ditos terem enriquecido mais um bocadinho. É bom para os pobrezinhos e é bom para os donos dos supermercados. Diz que é bom para a economia.
O Papa Francisco deve ter estas disfunções inscritas na agenda. Nós já as temos há muito. Aguardamos com ansiedade e satisfação mais declarações fracturantes do Papa.
Enfim, o Natal é só uma noite, não é? Então, façam o favor de conviver, e comer e beber com muito apetite: como se não houvesse pobreza no mundo. A gente volta a falar daqui por umas horas, quando tudo voltar ao normal. Quando a pobreza voltar a ser promessa política. Quando os políticos já estiverem esquecidos das palavras do Papa. Dá muito jeito, esta felicidade durar apenas uma noite. A realidade espera-nos: feroz e implacável. Boas festas.
Imagem: pintura de Paula Rego.

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