quinta-feira, 12 de setembro de 2013

OPINIÃO E ENTENDIMENTO | Vivo e trabalho entre duas cidades. Considero o Poder local Democrático uma disciplina irregular. Há autarcas que mais se assemelham a lustrosos cromos (alguns são, e da bola, mesmo), mas outros existem que merecem toda a nossa atenção. Temos conhecimento de gente que conta e de casos de tribunal constitucional. Autarcas-modelo não sei bem o que são. O título lembra-me propaganda a andar na Reboleira ou desfile em passerelle. Tenho a convicção que é sempre mais útil eleger gente de esquerda. A direita dos interesses tem preocupações que se encostam ao caciquismo. A esquerda também se engana, mas é quando esquece a cartilha do descomprometimento (Bem, não falemos da recente trapalhada do limite de mandatos). Um autarca de esquerda só deveria comprometer-se com a colectividade. O cosmopolitismo deveria ser lei de actuação. Atitude civilizacional entre gente de esquerda e republicana. Nem sempre assim é, mas façamos com que assim seja.

Em Lisboa foram feitas coisas. A actual vereação estruturou a cidade e tratou os problemas pelos nomes. Resolveu enleios antigos e vai continuar a resolver. É liderada por um homem que é um político completo. António Costa tem todo o meu apoio.
Tenho amigos em todos os partidos de esquerda inscritos na contenda. Nos de direita penso que não. Não me lembro, nem estou com isso preocupado. Voto sempre à esquerda. Há quem diga que as eleições nas regiões são muito pessoais. Que o que importa são as pessoas e não as ideologias. Pode ser, mas não contem comigo para o desfile. Aprecio a política com ideias políticas. E as ideias de esquerda são diferentes das ideias de direita. Têm de ser. Nunca me imaginaria a apoiar um cromo de direita. Nunca mesmo. 

Em Setúbal foi feita muita coisa. Novos espaços culturais invadem a geografia da cidade. Poderíamos falar sobre a utilização desses lugares inserindo-os na criação de um grande evento cultural no burgo. Mas deixemos isso para outro dia. 
A autarquia é liderada por uma mulher que me despertou profundas discordâncias pontuais. Ainda hoje me provoca o vómito a transformação de cançonetistas de feira de arrabalde em arautos da mensagem política. Mas percebi que o mal alastrou a outras forças políticas também com ideologia para ter juízo. Aprendi a perceber a transformação de mentalidades com José Afonso. É a minha escola e a minha referência humanista. Não me rendo, portanto, limito-me a não frequentar os locais onde estão montados os estrados dessa penúria cultural. 

Maria das Dores Meira convidou-me para fazer a imagem da Casa da Cultura e para colaborar na programação. Aceitei com gosto e lá estou na labuta. Esta actividade permite-me experimentar a minha noção de cosmopolitismo no sítio onde nasci e vivo. Faço o que posso e tenho o gosto de colaborar com uma equipa esforçada e com capacidade de ouvir. Devo e agradeço esse reconhecimento à actual presidente. E reconheço-lhe a capacidade de ter percebido que as ideias, por muito discordantes que sejam, podem acrescentar participação útil. Poderemos chamar-lhe, por assim dizer, convívio democrático. Resta-me desejar a continuação deste trajecto. O que corre bem deve ser estimulado. Pela parte que me toca, tentarei participar com maior exigência. Uma cidade que se quer grande precisa de todos os pequenos contributos.
Boa sorte, Setúbal.

IMAGEM: António Jorge Gonçalves e Sandra Celas, na galeria da Casa da Cultura, no dia da inauguração da exposição do António Jorge.