TODOS? EU TAMBÉM? POR ALMA DE QUEM? | Não tencionava perder nem mais um minuto com o assunto papal. Confesso que tenho consideração por muitos encartados profissionais da religião. Carreira das Neves, Tolentino de Mendonça, Bento Domingues ou Anselmo Borges, por exemplo, fornecem sempre interessantes textos sobre o mistério e as dúvidas da Fé. Mas a Cavaco dispenso o proselitismo. Ainda por cima com postura de catequista de bairro. Excelência insiste em falar em nome de "todos" os portugueses como se todos os portugueses professassem a sua religião. Não acho normal que excelência se pronuncie sobre as alegrias da sua religião como se de uma alegria colectiva se tratasse. Parece que excelência vai a Roma ver a entronização do Papa. E parece que excelência vai convidar o Papa simples dos pobres - pelos vistos todos os anterioeres eram uns arrogantes amigos dos ricos - para visitar a capelinha da aparição aos pastorinhos pobrezinhos que incharam a igreja com as histórias da santinha. As histórias papais já tresandam. Agora até o anel entrou na campanha de marketing. Francisco quer anel de prata em vez de ouro. Desconfio sempre destes exageros. Francisco começa a fazer lembrar Paulo Portas quando pendura os fatos caros no cabide para ir dar beijinhos nos mercados. Também os jornalistas de serviço na praça das missas assumem que estamos "todos" em festa com a entronização. O jornalismo acabou. Agora temos virados para as câmaras prosélitos catequistas em campanha de evangelização. Temos bom remédio: desligar. Mas Cavaco é o presidente de um Estado laico. Não deveria portar-se como vendedor de bíblias em segundos dedos. E nós, os que não somos "todos" os portugueses que aprovam o que excelência diz, não temos que comer e calar. Só isso.