segunda-feira, 4 de março de 2013



CARREIRAS E ELITES | Estamos tramados. Há um raminho de políticos, fazedores de opinião, jornalistas, entrevistados de luxo e outros lustrosos manhosos, que não hesitam em espremer os seus briosos miolos, extraindo daí todo o surtido de esterco contaminante. Não se calam. Divulgam barbaridades como verdades absolutas. Um qualquer negociante, sem qualquer curiosidade intelectual ou formação humanística, chega a super-ministro e exibe incompetência e demência. Miguel Relvas é apenas um símbolo coadjuvado por uma trupe incontável. Até foi convidado para botar sabedoria num inclassificável Clube de Pensadores que se expõe em blogue redigido com os pés. Mas há muitos mais crentes na capela do neoliberalismo insensível. O beato César das Neves, que acredita nas virtudes da crise para corrigir os nossos excessos, surge de vez em quando do nada para o púlpito. Mário Crespo, na SIC-N, convoca volta e meia o inenarrável avô Cantigas Esteves para as contas de subtrair. Ele próprio opina e desatina com outros convidados, menos alinhados com o seu tosco pensamento, envolto em sebosa sabedoria de obter e deitar fora. É também nesta estação que o justiceiro Gomes Ferreira ataca quem pode e bajula quem manda com descontração de figurante de anúncio publicitário. Há uma senhora na TVI que convida cromos de luxo: o professor Medina, a um dia certo da semana, subtraindo e corrigindo como se não houvesse amanhã, e o alucinado professor Marcelo, aos domingos, como cartomante encartado. Mas há muitos mais em outras montras da comunicação: um cretino chamado Camilo Lourenço, depois dos fretes a Passos e ao seu governo, vem agora propor o fim do ensino da história, concretizando-o com a proposta de extinção dos professores da disciplina, já que nada fazem pela economia. E depois há as esclarecidas mentes empresariais e banqueiras. Recuso-me a conspurcar estas singelas linhas com as mediáticas atitudes do merceeiro do pingo doce e do banqueiro do BPI, mas não podemos ignorar a muito recente sugestão do "ex-fascista" e posterior “social-democrata” João Salgueiro no sentido da instauração do trabalho forçado – mandar indiscriminadamente pessoas desempregadas para a limpeza de florestas e velhinhos é uma ideia que não lembraria ao mais empedernido dos seus ex-companheiros ideológicos. Também o movimento Reformados Indignados, dirigido por um ex-banqueiro e formado por pensionistas milionários, vem colocar a saborosa cereja no topo do bolo. Que elite é esta? Porque será que em Portugal até a elite é manhosa? Já não nos espantaria ver a dupla Santana Lopes - Pedro Granger associada na constituição de um clube de reflexão e análise. Nem me admirava nada que o saltitante João Baião, ou os inacreditáveis Homens da Luta, motivados pelas votações italianas, formassem um grupo contra-sistema para se candidatarem a eleições legislativas. Tudo é possível, em terra onde quem deveria transmitir conhecimento influente, influencia o poder contra quem de facto produz e luta pela sua existência com inteligência e exigência: a classe média. Alguém sabe de uma carreira que nos transporte daqui para fora?