MERCADO CONSTITUCIONAL | Esta ideia peregrina, alardeada pelos poucos apoiantes do Governo, de que a reprovação do orçamento pelo Tribunal Constitucional é um perigo para o país, faz mesmo lembrar tempos em que a política era feita sem possibilidade de contraditório. Se as linhas do Orçamento que suscitaram dúvidas a Cavaco forem inconstitucionais, o único culpado é o Governo. A ministra da caridade já disse que não podemos comer bifes todos os dias. O Presidente, que prefere receber reformas em vez do ordenado, diz que as reformas não lhe chegam para fazer face às despesas. Um conselheiro para as privatizações chamou-nos ignorantes. Um insensível banqueiro afiança que temos que aguentar isto e muito mais. O ministro autor do orçamento dos impostos enormes diz que sim, temos que aguentar e não piar por causa dos mercados que são como deus: estão em todo o lado e escutam-nos. Um economista de serviço diz que a crise é uma excelente oportunidade para corrigirmos os exageros despesistas. E ainda há jornalistas empenhados em convencer-nos da bondade disto tudo. Querem uma Constituição que premeie todas estas premissas? Olhem que isso não existe em democracia. Em ditadura é possivel, mas aí não é necessária uma constituição. Parece que as criaturas que nos governam e os seus lacaios não sabem nadar nesta piscina. Preferem as águas turvas do totalitarismo. Em democracia há sempre alternativa. Chamem-lhe plano B ou lá o que quiserem. Não tentem convencer o pessoal do contrário. É que já ninguém acredita nessa lengalenga. Era tão bom que as coisas pudessem ser feitas na paz de Relvas, Passos e Gaspar, não era? Era, mas não é. Cá estaremos para apoiar tudo o que impedir o "sucesso orçamental". Preferimos o sucesso das pessoas.
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