terça-feira, 1 de janeiro de 2013

ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE |  Parece que o ano em que a vergonha deixou definitivamente de contar deu as últimas. Era bom que esta mudança abrupta (a coisa passou-se de uma hora para a outra), fosse também decisiva para o exercício da política pátria e europeia. Há uns anos atrás foram decididas alterações substanciais. A produção dos países da comunidade foi nivelada segundo um novo paradigma. A ideia era manter um equilíbrio segundo as características próprias de cada país. Portugal teve que destruir significativas indústrias. Em linguagem de gente isso podia ter sido classificado como solidariedade entre povos. Mas não foi isso que aconteceu. Os grandes decidiram tudo. Os pequenos limitaram-se a obedecer. Parece mentira que tivesse acontecido entre associados da mesma agremiação. Mas foi o que aconteceu. Agora que uma terrível crise, nascida fora do continente europeu, ameaça e destrói, deveria estar na hora de o modelo ser revisto. A solidariedade é indispensável para que a unidade das comunidades seja letra viva. Merkel deveria perceber que a Alemanha sozinha não vai aguentar para sempre. A França deveria reconhecer que a estrutura está a abrir brechas. A Itália já percebeu quase tudo e pôs as barbas de molho. A Espanha já não vai em zarzuelas e insiste em empurrar a "ajuda externa" com a barriga. E por cá? Por cá estamos muito contentes por sermos bons alunos. A escola desmorona-se, os alunos estão com os bibes a arder, mas os mestres-escola continuam a acenar para os directores escolares com a caderneta preenchida a vermelho de sofrimento. Somos dirigidos por chico-espertos iluminados por grandes sucessos pessoais, mas enegrecidos por uma total insensibilidade humana. 
Imaginemos que na quarta-feira de manhã, ao invés de irem assinar despachos enganadores para os seus apetrechados gabinetes, os ilustres responsáveis europeus telefonavam uns aos outros para discutirem a alteração do modelo de combate à crise, decidirem a aplicação da solidariedade entre os países membros e consequente alternativa de crescimento económico. Claro que muita gente abandonaria o ringue. Berlusconi poderia ir definitivamente namorar as amigas das suas netas, Cameron passaria a ter mais tempo para ir ao supermercado, Álvaro voltaria para Vancouver no primeiro avião, Passos Coelho teria tempo para ler toda a obra de Sartre e Relvas poderia ir para assessor de um governo africano. E Merkel? Pois, o problema é esse. Enquanto a Alemanha não tiver eleições, vamos continuar a dançar com a mais feia. As políticas do neoliberalismo não passam de um baile animado pela orquestra do Titanic. O navio está à deriva. Para 2013 todas as previsões asseguram águas agitadas. Em 2014 talvez se encontrem as jangadas. Será que sobreviveremos ao naufrágio eminente?
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