DESABAFO
CARTA AOS DIRIGENTES DOS PARTIDOS DE ESQUERDA.
Caríssimos: Como cidadão, e como pessoa com respeito pela política, tenho a dizer o seguinte: assistimos a uma ofensiva política sem precedentes. A falta de respeito pelos cidadãos atinge níveis salazarentos. Actualmente, quem critíca o Governo é logo de seguida atacado no seu carácter, ou de imediato são engendrados e divulgados episódios pretensamente pouco edificantes. Pacheco Pereira chamou a atenção para isso. Está em risco a nossa liberdade individual. No que diz respeito à governação propriamente dita, o Governo tenta fazer de nós parvos. Não há nada a fazer - este é o único caminho, dizem. Nem anteriores entusiasmados apoiantes estão agora na berlinda de Passos. Não vale a pena evocar nomes. Exemplos não faltam. Os defensores das medidas do Governo militam numa credibilidade que raia o ridículo. Há contudo uma verdade insofismável: nada disto é surpresa para quem sabe o que acontece quando a direita ocupa o poder político. Os deputados do BE e do PCP sabiam, tal como nós, que não pisamos as carpetes do poder, o que ia acontecer. Logo após a queda do Governo anterior, Miguel Portas, em gravação vídeo, a partir de Bruxelas, chamou a atenção para a farsa coelhista. Classificou mesmo o actual primeiro-ministro de farsola. No dia seguinte à derrocada política do anterior governo, Passos foi à sede da Europa defender - humilhado por um evidente puxão de orelhas infringido pela senhora alemã - o que tinha lamentado nas medidas apresentadas pelo Governo de Sócrates. Miguel Portas estava carregado de lucidez. Mas Coelho fez cair o governo coadjuvado pelo BE e pelo PCP. Vamos esquecer isso. Sócrates estava de rastos. Era impossível haver apoio por parte da esquerda a que muitos chamam "não governamental". Toda a gente se portou mal nesta história. Eu acho que foi uma atitude irresponsável. Entendo que as atitudes políticas devem ser tomadas contando com as pessoas. E todos sabíamos o que aí vinha. Mas adiante. Agora estamos perante as políticas mais farsolas desde as correcções à dignidade humana e à liberdade de expressão iniciadas em Abril de 1974. Nunca um Governo ofendeu tanto os governados. As políticas anunciadas só ajudam quem já é favorecido. Acontece que sem desenvolvimento económico não há Economia que aguente. Ou seja, isto vai dar em desgraça e nada mais. Portanto, caros amigos das esquerdas portuguesas: entendam-se. Ou vamos concordar com estes trogloditas que asseguram não haver alternativa? A crise, ao contrário do que dizia antes das eleições o farsola que governa, é internacional. Mas primeiro temos que nos entender cá dentro. É a nossa vida que está nas mãos destes trastes. A direita entende-se. E nós? PS, PCP e BE devem abandonar preconceitos que os afastam. Há luxos estratégicos que nos estão a sair caros. A direita intimida o PS por se colar à esquerda "não democrática"? Concordará o PS que a esquerda parlamentar é antidemocrática? Que se lixe o que dizem os arautos da direita. É essa gente manhosa que decide o que devemos fazer? Borrifem-se na direita, e nos complexos íntimos de esquerda, e entendam-se. Entendam-se, ouviram? Isto antes que seja tarde. A situação não está para brincadeiras. Vejam lá isso.