OPINIÃO | "Há memórias que não se podem perder nestes tempos do esquecimento", diz Fatima R. Santos, no seu mural do facebook. E diz muito bem.
Não gosto de conhecer escritores. Gosto de lê-los e salvaguardar a distância que a ficção impõe. Desta vez não foi possível, aconteceu-me conhecer a mulher que se revelou autora de um romance soberbo, no número de páginas e no conjunto de personagens que relembram uma cidade que desapareceu, mas que deixou marcas mesmo aos que não viveram na Fonte Nova. São as marcas de um tempo em que a pobreza era genuína, o salário era alarvemente baixo, a polícia política era ameaçadora e a denúncia era sórdida.
Os leitores de Alice Brito têm nas mãos um romance de grande correcção na informação histórica, desconcertante pelo humor/fonte de energia que contracena com a tristeza e a humilhação. Um drama violento, mas solidário. Um drama que contou com a intervenção também de muitos homens, mas é sobretudo uma história de mulheres num tempo azedo e silenciador.
Alguém disse que o romance de Alice Brito devia ser lido nas escolas, devia sim senhor pois há memórias que não se podem perder nestes tempos do esquecimento.
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