quarta-feira, 6 de junho de 2012


GENTE VIVA | Há coisas assim. Tenho sempre uma ligação afectiva com os trabalhos em que participo. Os livros estão na frente. O design editorial é disciplina preferida na minha actividade profissional. Mas tenho a este trabalho uma ligação como nunca aconteceu com nenhum outro. Não vou aqui contar o feliz enredo por que passou até à sua chegada ao estado de objecto publicado. Falo apenas do livro em si. Uma história que me fascinou, desde as primeiras páginas, ainda compostas no bloco A4 que me foi dado a ler. É em Setúbal que tudo se passa, mas podia ser em outro sítio qualquer. Almodóvar adoraria fazer deste texto guião para filme, digo eu. Este é o grande romance de uma terra cheia de gente que sofre, luta, e tudo faz para ser muito feliz. É escrito por uma mulher nascida na cidade, e isso não é nada de deitar fora. Tudo isto tem importância para que se entenda o discurso assertivo e literariamente notável inscrito nestas páginas. Por aqui anda o Portugal que se envergonha dos seus cidadãos e os coloca abaixo de qualquer classificação. O bolorento país de Salazar e corja adjacente está aqui retratado na sua vertente mais asquerosa: a forma como mal tratava quem lutava pelo seu sustento e existência. Como até parece que Salazar ainda não morreu nas humildes cabecinhas de muitos decisores, este livro é também um alerta. É bom não esquecer o que de mau aconteceu, para que não seja possível voltar a acontecer. 
Parabéns, Alice: o teu livro é mesmo do caraças.
Título: As Mulheres da Fonte Nova
Autora: Alice Brito
Design da capa e fotografia da autora: José Teófilo Duarte com João Silva - www.ddlx.pt
Revisão: Fernanda Fonseca
Edição: Planeta - Ana Maria Pereirinha
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