domingo, 20 de fevereiro de 2011



O ESPLENDOR DE PORTUGAL | Somos um povo difícil de contentar. Exigimos dos nossos compatriotas mais esforçados o impossível. Infernizamos a vida de gente que muito trabalha para nós. José Penedos, por exemplo, recebia prendas como reconhecimento disso mesmo. Eduardo Catroga apressou-se a confirmar a bondade do seu amigo, confirmando a normalidade do recebimento de presentes por parte de quem exerce cargos públicos. Catroga também se fartou de receber ofertas e não vê nisso nenhum mal. O ex-ministro Dias Loureiro foi injuriado por enriquecimento ilícito, vendo-se na necessidade de se retirar para uma vida modesta num país com poucos recursos. Armando Vara, outro modesto ex-ministro, foi injuriado por ter recebido uma caixa de robalos, imagine-se. Jorge Coelho abandonou a política para se dedicar à "construção" de um país novo. Oliveira e Costa vai para o chilindró, por ter tratado de forma zelosa as poupanças dos clientes do banco que dirigiu. E que dizer de João Rendeiro? Um teórico de estudos económicos que tudo fez para que entendesse-mos os benefícios das operações bancárias? Outro grande homem a quem muito devemos, Joe Berardo, o colecionador de arte que nos "ofereceu" a sua coleção, diz agora que estamos a precisar de algo diferente: um novo género de ditadura, por exemplo. Que boa ideia, senhor comendador. Como é que ninguém se tinha lembrado disso antes? Não faltam, portanto, exemplos de gente dedicada aos seus semelhantes. Termino com o extremoso exemplo do professor Cavaco Silva, que exerce a mais Alta Magistratura em regime de trabalho voluntário, vivendo das merecidas reformas. E ainda nos queixamos.
Que raio de povo este, que não reconhece os esforços de quem dele cuida.