quinta-feira, 29 de julho de 2010


AINDA AS TOURADAS | Gostei deste texto que o Eurico Coelho me enviou há uns tempos. Acho que é oportuno colocá-lo agora aqui. Diz assim:

A Tourada tem, sem dúvida, lugar na cultura portuguesa, devidamente documentada no espaço de um Museu.

A manutenção da sua prática não pode ser confundida com cultura, antes prova a sua ausência, alimentando com inércia irracional, os instintos mais básicos e primários daqueles que ainda consideram os espectáculos de sangue, como uma sensação que lhes enriquece a experiência de viver.

Num Mundo global, consciente dos direitos universais e da preservação e respeito pela natureza, insistir em manter uma actividade como esta, é um verdadeiro contra-senso, para além de constituir um desrespeito à sensibilidade e inteligência do português médio de hoje.

Temos de ganhar a consciência de que há uma minoria cada vez mais restrita a ver com naturalidade este martírio, as touradas já não significam nada para a maioria do povo português. Por falta de representatividade e por ser uma actividade dispendiosa, ela vai desaparecer inevitavelmente. É um luxo apodrecido do qual podemos prescindir. Seria um acto de oportunidade e coragem política abreviar esta sentença, como sinal de amadurecimento de um povo que se emancipa das suas tradições sanguinárias.

As tradições juntam as pessoas em torno de uma crença comum. As touradas são, cada vez mais, um agente fracturante na nossa sociedade, criam desconforto moral, quezílias sociais entre gente simples e são um mau exemplo para as nossas crianças que insistimos em não expor à violência.
Eurico Coelho