terça-feira, 22 de junho de 2010


MÁQUINA DE FAZER LITERATURA | valter hugo mãe (o escritor diz tudo em ninúsculas), é um dos autores das jovens gerações que vale a pena conhecer. Venceu o Prémio José Saramago, e recebeu outras distinções de monta. Este "a máquina de fazer espanhóis" é um desassossego. Está cheio de humor, ternura, amizade e até amor, vejam lá. Eu li este maravilhoso livro de um fôlego. Percebi a devastadora originalidade. E agora só penso em voltar a algumas passagens. Temos obra. Aqui vai um cheirinho intenso:

deus é uma cobiça que temos dentro de nós. é um modo de querermos tudo, de não nos bastarmos com o que é garantido e já tão abundante. deus é uma inveja pelo que imaginamos. como se não fosse suficiente tanto quanto se nos põe diante durante a vida. queremos mais. queremos sempre mais. até o que não existe nem vai existir. e também inventamos deus porque temos de nos policiar uns aos outros. é verdade. é tão mais fácil gerir os vizinhos se compactuarmos com a hipótese de existir um individuo sem corpo que atravessa as casas e escuta tudo quanto dizemos e vê tudo quanto fazemos. é tão mais fácil se esta ideia for vendida a cada pessoa com a agravante de se lhe dizer que, um dia, quando morrer, esse mesmo sinistro ser virá ao seu encontro para o punir ou premiar pelo comportamento que houver tido em todo o tempo que gastou.

Boa leitura, desejo eu.