segunda-feira, 24 de maio de 2010
MANIA DAS GRANDEZAS | Os nossos governos - este e outros anteriores - herdaram a mania das grandezas de D. João V, o perdulário (também conhecido pelo freirático devido à sua apetência sexual por freiras, de quem teve vários filhos). Conta-se que um seu emissário se deslocou a Amesterdão para encomendar um carrilhão para o Convento de Mafra. O artesão holandês, o melhor na sua arte na Europa, não aceitou iniciar o trabalho enquanto o dito emissário não transmitisse ao Rei o preço, o qual era de elevada monta. Parece que D. João V achou humilhante o que para o holandês era uma regra de oiro: não iniciar um trabalho sem que o dono da obra conhecesse e aceitasse o preço. O nosso rei perdulário respondeu à suposta "humilhação" enviando de novo o emissário com um recado preciso: "Nunca pensei que um carrilhão fabricado na Holanda custasse tão barato. Por esse preço encomendo dois". Ainda hoje estamos a pagar esta herança. Os nossos governantes perderam a apetência sexual por freiras, pelo menos que se saiba, mas não deixaram de ser perdulários, nem perderam a mania das grandezas. Enquanto o Estado gastar como gasta e gostar de exibir uma riqueza que não temos, não saímos da cepa torta. E o esforço actual dos portugueses é inútil enquanto não tivermos um Estado que sirva os cidadãos e não um Estado que se sirva dos cidadãos.
Tomás Vasques Hoje há conquilhas.