segunda-feira, 4 de maio de 2009

O acordeão triste


Quando abraçava o acordeão, um largo sorriso inundava-lhe a face.
A dança começava. Parecia um casal dando brilho a uma pista imaginária. Ele e o instrumento posicionados no estrado dessa dança - uma simples cadeira. Pareciam amantes apaixonados, ele e o acordeão. Enrolavam-se um no outro com denotado prazer. E nós assistíamos em silêncio. Às vezes cantarolava. Cantigas francesas, sobretudo. E o baile só parava quando o corpo cedia. Eram horas nisto. Agora calaram-se: ele e o acordeão. E a cadeira está vazia, testemunhando a tristeza que o fim comunica. Morreu de desgosto. Maria Emília, a sua mulher de uma vida, morreu há poucas semanas. Ele não aguentou esta provação. Era assim, o Dimas. Gostava de gostar. E nós gostávamos muito dele.