sábado, 21 de fevereiro de 2009

Deambulatório

Aos sábados, opiniões escolhidas entre as publicadas nas redondezas.


Conversas no veterinário - Cada ida ao veterinário é um sacrifício. Não tanto pelo eterno festival que é enfiar os gatos dentro do transportador, nem pela factura directamente remetida para o cesto dos papéis, mas pelo suplício sempre renovado das conversas na sala de espera. A médica veterinária é uma espécie de S. Francisco de Assis aqui da zona, em versão cabelo solto e comprido e veículo todo-o-terreno. Para lá convergem as mais diversas raças de bichos e de gente, desde velhos solitários que fazem malabarismos com as pensões para dar mais qualidade de vida aos seus “animais de companhia” (porque é mesmo disso que se trata), até representantes de famílias numerosas que aproveitam a descontracção do momento para uma exibição gratuita de status. Começam por perguntar o nome do bicho a quem reconhecem um pedigree semelhante e dali a nada já estão nas quintas do Alentejo, na caça à lebre, nas viagens à Patagónia, nos netos que andam no Liceu Francês, na receita de empada de perdiz e sei lá que mais. Às vezes, o desconforto na sala é tão grande que algumas pessoas só não ladram por boa educação. Acho bem que cada um aproveite a vida que tem, mas em lugares públicos deve haver algum pudor na manifestação das desgraças e – vai dar ao mesmo – da prosperidade. E depois, convenhamos que nem toda a gente tem interesse em saber que aquela podenga anã de pêlo cerdoso tem antepassados desde o tempo do D. Afonso Henriques.
Carla Maia de Almeida O JARDIM ASSOMBRADO


Renovação de médicos - Concordo com o Presidente da República quanto à necessidade de renovar as gerações de médicos. Só tenho pena é que durante os seus governos ele não a tenha sentido.
Talvez nessa altura tivesse sido mais importante a sua preocupação e planeamento estratégico, visão a longo prazo, ou outras expressões semelhantes. Agora vem um bocadinho extemporânea, ou mesmo atrasada...
Sofia Loureiro dos Santos DEFENDER O QUADRADO


Não se faz - O episódio do carnaval de Torres Vedras tresanda por todos os lados. O indivíduo que fez a queixa, a procuradora que actuou sem primeiro ver o objecto do crime (diz ela que se «baseou numa fotografia desfocada»; olha se alguém se lembra de fazer o mesmo com um assassinato encenado...), a insistência no computador Magalhães. Mas a pérola estava reservada para hoje: no Público, a jornalista Romana Borja Santos conclui a reportagem dizendo que «Até ao fecho desta edição não foi possível contactar o Ministério da Educação.» O Ministério da Educação? Então e o Obama?
Eduardo Pitta DA LITERATURA