domingo, 21 de setembro de 2008

Coligação de contrários


O cronista do DN Alberto Gonçalves argumenta, em caixa, na sua habitual crónica dos domingos, que "é impossível não apreciar a reprimenda de Manuel Alegre aos meninos da JS". Até aprecio o estilo afoito das opiniões de Alberto Gonçalves, mas por mais voltas em que envolva o miolo, não consigo encontrar as razões de não se poder estar em desacordo com Alegre. A reprimenda de que se fala deve-se às opiniões que os jovens socialistas têm sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Alegre, bardo de outros tempos, caçador, frequentador de touradas e outras manifestações de orgulho viril, não aprecia por aí além as "mariquices" dos seus jovens companheiros de partido, classificando-as como "temas da moda". Os disparates a que Alegre nos habituou têm agora sucesso junto de pessoas que não se juntam ao poeta nem para beber um cafézinho. Porquê? Porque dá jeito. A gente finge estar de acordo com o "renascentista" Alegre contra a contemporaneidade, essa devassidão.

O tema em discussão não é de modas. Todos os problemas devem ser abordados quando são problema. Este é só mais um entre outros que atormentam a sociedade portuguesa. Quem vive a chatice é que sabe a sua dimensão. Provavelmente Manuel Alegre tem outras chatices que acha prioritárias. É normal que se preocupe com elas. Mas desmerecer assim em quem afronta o seu conservadorismo, não lhe fica bem. Faz-me sim sentir bem por não ter sido eleito Presidente da República de todos os portugueses.
Alberto Gonçalves completa a opinião descrevendo a atitude do poeta de demagógica, e reconhece que as ideias de Alegre para resolver as "questões sociais" até levariam ao seu agravamento.
Estranha simpatia, esta.